segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O Cristo de Giotto di Bondone




Hoje, lendo "Francis Bacon: lógica da sensação", de Gilles Deleuze, me deparo com este quadro surpreendente, acompanhado da fantástica leitura de Deleuze sobre esta pintura:

"(...) o Cristo de Giotto, transformado num pipa em pleno céu, verdadeiro avião, que lança sua cicatriz sobre São Francisco, enquanto as linhas hachureadas do percurso da cicatriz aparecem como as marcas livres com as quais o santo maneja os fios do avião pipa."

Achei muito interessante este Cristo-pipa, que parece estar sendo manejado por um São Francisco que parece dançar sobre a terra. As linhas que ligam Francisco e o Cristo me fizeram sentir como se não fosse possível saber se é Cristo quem faz Francisco dançar, ou se é Francisco quem faz Cristo voar. As linhas são a relação, linhas exatas do titoreiro e seu boneco: metáfora preferida de Deleuze para o conceito de agenciamento.

Mais para além do agenciamento, a partir da relação que as linhas entre Francisco e Cristo supõem, há aqui uma idéia da relação envolvendo agências do sobrenatural, ao mesmo tempo em que é também uma imagem carregada de um sentido de descontinuidade, imediação, entre Francisco e Deus, na forma de Cristo-pipa.

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