quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Dos aperreios na virada de Saturno

Dos 70 reais que havíamos juntado com a venda do filtro dos sonhos e um trocado que havia sobrado de uma diária de garçom no bar, nos alimentamos de quinta-feira a sábado, quando entregamos os 30 reais restantes ao dono do barraco em que já estávamos devendo o aluguel hpa uma semana. Na segunda-feira, conseguimos uma cesta-básica da assistência social da cidade, e passamos a semana sem nenhum centavo, nos alimentando com os elementos daquela que chamávamos "providência de dilma": dois pacotes de açúcar, dois pacotes de café, duas latas de sardinha, quatro latas de carne em conserva, um quilo de arroz, dois quilos de feijão, dois pacotes de flocão de milho, dois pacotes de macarrão. Trocamos um saco de feijão por um pouco de ossada na vizinhança, e o saco de açúcar vendemos por dois reais para comprar um pouco de linguiça toscana.

Saíamos pelas ruas tentando vender algum artesanato, e só recebíamos "não" como resposta. Nenhum centavo, nenhuma moeda. Até que finalmente, descuidando da sacola onde guardávamos as pulseiras de miçanga e os brincos de macramê, fomos roubados.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Lux Vidal, Xikrin do Cateté, 1972.

Morte e Vida de uma Sociedade Indígena Brasileira: os Kayapó-Xikrin do rio Cateté, de Lux Boelitz Vidal. São Paulo, HUCITEC/EDUSP, 1977. 268 p.




Na Biblioteca Municipal de Marabá, me deparei com o livro de Lux Vidal. Tal volume, presente na biblioteca e disponível para retirada, pertenceu a Frei Gil Gomes, datado pelo seu presenteador na folha de rosto, a caneta, com o ano de 1978. O livro de Lux Vidal é a publicação de sua tese de doutoramento defendida na USP em 1972, acrescido de um capítulo sobre o estudo ritual realizado em seu mestrado, também pela USP.

"O antropólogo tem uma maneira específica de se ambientar. Imiscui-se num grupo, convive com os indivíduos, trata de estabelecer relações simétricas, porque é de seu interesse e porque são as bases necessárias para o seu trabalho. Acaba adquirindo pai, mãe, tabdjuo (sobrinhos e netos) e um bom número de amigos formais, cujos afins se divertem às suas custas. Por outro lado, o missionário ou a enfermeira estabelecem automaticamente relações assimétricas: "Tudo bom meu filho? vem cá, meu filho, tomar remédio." Eles tem a naturalidade e a segurança de quem sabe." (p.3)

Verde Vagomundo, Benedicto Monteiro

Amazônia fantástica.