sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A pobreza, para os evangélicos neopentecostais

Encontrei uma análise bastante boa sobre o que significa a pobreza, do ponto de vista cosmológico dos evangélicos pentecostais. Está no artigo de Fábio Lanza e Cláudia Neves da Silva (UFPR), intitulado "Pentecostalismo e Teologia da Libertação: a busca de respostas para enfrentar os problemas sociais", e foi apresentado na RAM 2009.


"Esperam que a religião lhes forneça as respostas de como enfrentar as constantes dificuldades materiais e financeiras. Se a busca para enfrentar as agruras cotidianas se dá no plano espiritual porque depende da fé de cada um em um deus poderoso e onipotente, as razões para existirem homens e mulheres em situação de extrema pobreza também não estariam fora deles, mas em uma esfera interna que somente cada indivíduo poderia superar. A pobreza material poderia ser decorrência da pouca fé em Deus, da desobediência às suas determinações. Por esta razão, nos cultos é exaltada a obediência a Deus e às suas palavras.
Nesse sentido, a pobreza para aqueles que compartilham essa concepção de mundo, decorreria de uma situação individual, tanto do que tem mais, porque movido pelo egoísmo, pelo anseio do ganho fácil, que o leva a explorar seus empregados, pagando-lhes salários injustos e a não ajudar os mais necessitados, quanto do que nada tem, porque uma força fora deste mundo, maligna, o estaria impedindo de prosperar, de ter um emprego, a casa própria. Somente pela fé em Deus e em seu filho, Jesus Cristo, seria possível superar esta força que estaria dominando a vida do crente."
(LANZA e SILVA, 2009, p. 13)


É muito interessante perceber como, a partir desta análise, dentro desta cosmologia um problema social é compreendido como um problema individual, de personalidade, ou de falta de esforço pessoal. Se a pessoa não tem emprego, não é porque o Estado se privatizou ou porque falta emprego no país devido a situação de neocolonialismo: é porque a pessoa não está se esforçando, é porque o demônio está impedindo ela de arrumar um emprego.

Não é explícito, mas fica nas entrelinhas de seu texto que considera que um dos fatores do sucesso das igrejas evangélicas, no momento em que quem era católico começa a virar evangélico, é que a igreja evangélica possibilita, muito mais que a católica, uma aproximação do fiel com o Deus sobrenatural: é um fiel que agencia o sobrenatural, sem mediações humanas tipo padre. Uma ampliação da análise desse fator é dizer que esta agência do sobrenatural confere poder, ou "ilusão de poder" - então quem é apenas uma doméstica fora do templo, no templo é a invocadora do Espírito Santo, é a fortalecedora de exorcismos. E é claro, esta aproximação maior com o sobrenatural certamente dependeu da inserção de mais entidades neste cosmos sobrenatural - como os exus, as pombagiras, os espíritos populares já tradicionalmente consagrados por sua característica de poderem ser incorporados pelo homem no transe.

Um outro fator apontado no texto é que aquelas igrejas evangélicas que surgiam, ofereciam soluções rápidas para tormentos físicos e emocionais.

Nenhum comentário: