quinta-feira, 25 de setembro de 2008



"Ao rejeitar a noção do sagrado mediado, os protestantes
rejeitaram também toda a hierarquia social ligada a ela." - Charles Taylor.

Como as gradações da maior ou da menor sacralidade de certas funções são a base da hierarquia religiosa das sociedades tradicionais, desvalorizar essa ordem é retirar os fundamentos da hierarquia social como um todo, tanto da esfera religiosa em sentido estrito como nas outras esferas sob sua influência. Desse modo, dado seu potencial equalizador e igualitário, abriu-se espaço para uma nova e revolucionária noção de hierarquia social, baseada no self pontual tayloriano, ou seja, em uma concepção contingente e historicamente específica de ser humano, presidida pela noção de cálculo, raciocínio prospectivo, auto-controle e trabalho produtivo como fundamentos implícitos tanto da auto-estima como do reconhecimento social dos indivíduos.

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O tema da vida cotidiana irá se opor à concepção platônica ou airstotélica de exaltação da vida contemplativa por oposição à vida prática. A revolução de que fala Taylor é aquela que redefine a hierarquia social a tal ponto que as esferas práticas do trabalho e da família, precisamente esferas nas quais todos, sem exceção, participam, passam a definir o lugar das atividades superiores e mais importantes. Em contrapartida, observa-se o desprestígio das atividades contemplativas e aristocráticas de outrora. Taylor percebeu que as bases sociais para uma revolução desse porte tiveram a motivação religiosa do espírito reformador.

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A conceção do trabalho nesse contexto vai enfatizar não o que se faz mas como se faz (Deus ama advérbios). O vínculo social adequado às relações interpessoais passa a ser de tipo contratual. Em linguagem política, essa nova visão de mundo consagrar-se-á sob a forma de direitos subjetivos e, de acordo com a tendência igualitária, definidos universalmente. Taylor chama esse conjunto de ideais de "princípio da dignidade". Em vez da "honra" pré-moderna, que pressupõe distinção e privilégio, a dignidade pressupõe o reconhecimento universal entre iguais. Assim, temos a atribuição de reconhecimento social como base da noção moderna de cidadania jurídica e política.