sábado, 8 de dezembro de 2012

"A convicção que aceita a utilidade ou o princípio maior da felicidade como o fundamento da moral admite que as ações são corretas na proporção em que promovem a felicidade, e erradas na medida em que produzem o contrário da felicidade." - John Stuart Mill

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Michel Taussig

Taussig, Michel. Xamanismo, colonialismo e o homem selvagem. São Paulo: Paz e Terra,1993.

Antropologia não-realista a serviço de uma concepção epistemológica que quer "penetrar o véu mantendo sua qualidade alucinatória."

domingo, 2 de dezembro de 2012

O Jugo de Cristo



Nunca tinha entendido essa passagem, e a explicação eu estou copiando e colando deste endereço: http://refletirecontemplar.blogspot.com.br/2010/09/o-jugo-de-cristo.html


"Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de
coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave
e o meu fardo é leve."
Mt. 11. 29, 30 (ACF)



O jugo era posto antigamente sobre os bois e, com a força destes bois, a terra era preparada para o plantio. Ora, um boi sem experiência nao vai trabalhar da maneira como o senhor da terra deseja; assim, um boi mais experiente dividia o jugo (lado a lado) com o boi menos experiente, de modo que o segundo aprendesse com o primeiro quantas horas por dia deveria trabalhar, qual caminho a seguir, em que direção... Quando o boi inexperiente desejasse parar e nao fosse ainda hora de parar, o boi mais experiente o incentivaria a prosseguir até onde deveriam e até a hora em que deveriam trabalhar durante o dia.

é Ele que nos impele a caminhar mais uma milha, a avançar, a perdoar a ofensa, a anunciar o evangelho mesmo quando não estamos tão dispostos a sair de nossa zona de conforto. É claro que não nos é pesado o que fazemos em amor. Será que Cristo achou pesado demais morrer naquela cruz? Sacrificar seu bem estar em favor de tanta gente não merecedora? De jeito algum. Ele levou todo o peso, ele caminhou todo este caminho levando toda a carga por nós.

Hoje, com Ele caminhamos esta carreira, nos preparando (sendo santificados, crescendo na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador) e preparando a terra (anunciando o evangelho de Cristo) para que Ele venha.

É Ele que nos ajuda a suportar a caminhada, a vencer as tentações, foi Ele que intercedeu por nós antes mesmo da cruz e continua a interceder por nós, para que prossigamos e vençamos a carreira proposta (Hb. 12.1).

Tomar o jugo de Jesus significa nada mais do que caminhar em comunhão com Ele, lado a lado, num mesmo propósito, sabendo que Ele nos conhece, e não passaremos por nada além do que podemos suportar, pois tudo aquilo que não podíamos suportar Ele mesmo já suportou por nós!

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

LEA, Vanessa (2012) Riquezas Intangíveis de Pessoas Partíveis

Foi publicado, recentemente, pela editora da Universidade de São Paulo, o livro "Riquezas Intangíveis de Pessoas Partíveis: os Mebêngôkre (Kayapó) do Brasil Central", de autoria da etnóloga Vanessa Lea. A autora focaliza a análise nas relações que conectam as pessoas no processo de transmissão de nomes e riquezas (nekretx) no âmbito das redes associadas às matricasas mebêngôkre, argumentando que os Metyktire (subgrupo mebêngôkre) são matrilineares, diferentemente do que apontam estudos realizados nas décadas de 1970/80. Essa análise é inspirada nas reflexões de Lévi-Strauss sobre as "sociedades de casas" e de Marilyn Strathern sobre a circulação de riquezas na Nova Guiné. O livro descreve as práticas de nominação dos mebêngôkre, que costumam transmitir um conjunto variado de nomes (bonitos, comuns e de brincadeira) e nekretx para as gerações mais novas, através de longas cerimônias organizadas para esta finalidade. De leitura agradável, o texto aborda um tema central na vida mebêngôkre a partir de uma perspectiva etnográfica permeada por análises teóricas de maior fôlego, permitindo comparações com outras sociedades Jê do Brasil Central.

A publicação já está disponível nas livrarias. Segue abaixo um pequeno trecho da introdução do livro (para divulgação):

"De modo geral, há pouca relutância em aceitar os bens industrializados. Como será demonstrado em outros capítulos, a incorporação de bens de fora de sua sociedade sempre fez parte da cultura Mebêngôkre. Por exemplo, muitos anos atrás aprenderam com os índios Yudjá a construir canoas. Os Metyktire afirmam querer coisas de kube, mesmo coisas que eles mesmos fabricam, como fio de algodão vermelho. Raciocinam afirmando que gostam das coisas do kube como os kube gostam de coisas de índio - bordunas, colares, cocares, cestos, etc.

Os Metyktire me bombardearam com perguntas sobre a confecção de cobertores, panelas de metal, canetas, papel etc. Estavam incrédulos que eu pudesse usar coisas sem nunca ter observado como são fabricadas. Suspeitavam que havia alguma espécie de especialização, perguntando, por exemplo, se os kube americanos são aqueles que manufaturavam cartuchos caibre 38. Um homem perguntou se aqueles que fazem velas ficam ricos, devido ao preço relativamente alto das velas, ou se as dão de graça (kajgô).

A noção de dinheiro é ainda mais enigmática e misteriosa. O chefe Metyktire me perguntaram quem fabrica dinheiro, como e onde. O chefe em Kretire queria saber quem é o dono do dinheiro e para que o utiliza. Um homem alegou que os kube precisam simplesmente (tu) dar coisas aos índios porque têm dinheiro no banco, que recebem do chefe grande; para obtê-los basta fazer fila. Os Metyktire pedem dinheiro para qualquer visitante kube argumentando que os 'índios não têm dinheiro'. (...)

No início da minha estada com os Metyktire me decepcionou o fato de eles falarem dia e noite sobre nekretx, referindo-se aos bens industrializados. Para europeus, pós-1968 como eu, sociedades ameríndias representavam a possibilidade de viver em harmonia com a natureza, e de oferecerem alternativas às mazelas da sociedade pós-industrial. Estava intrigada em saber por que os bens industrializados eram designados por uma palavra tão evidentemente mebêngôkre, e então decidi investigar a etimologia de nekretx. Isso significou mergulhar num mundo fantástico, digno da imaginação de Borges. Fui seduzida pela riqueza (nekretx) dos Mebêngôkre ao ponto de torná-lo o objeto principal de minha pesquisa. Nekretx e o sistema onomástico dos Mebêngôkre são dois lados da mesma moeda: ambos são fundamentais para entender a organização social dos Mebêngôkre porque implicam um conceito de casa como pessoa jurídica (personne morale, em francês), composta de pessoas partíveis (conforme será esclarecido a seguir)."


Referência: LEA, Vanessa. 2012. Riquezas Intangíveis de Pessoas Partíveis: os Mebêngôkre (Kayapó) do Brasil Central. São Paulo: Editora Edusp.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Lançamento de “Imagens de Cura: Ayahuasca, imaginação, saúde e doença na Barquinha”, de Marcelo S. Mercante, pela Editora Fiocruz.

Em situação de doença ou sofrimento, muitas pessoas buscam uma religião. Não é diferente nas religiões ayahuasqueiras, cujos rituais são conhecidos por utilizar uma bebida à base de Ayahuasca, uma substância psicoativa. O Santo Daime é a mais conhecida dessas religiões, mas existem outras, como a União do Vegetal e a Barquinha – esta última restrita ao Acre. Pessoas em tratamento de saúde com Ayahuasca vivenciam e relatam mirações após o consumo da bebida, cuja eficácia – seja simbólica, seja física – tem sido bastante discutida. Entender o papel dessas mirações, mas ultrapassando o tradicional debate sobre a ação da substância: esta é a proposta do livro Imagens de Cura: Ayahuasca, imaginação, saúde e doença na Barquinha, lançamento da Editora Fiocruz. O autor, Marcelo S. Mercante, estudou um centro ligado ao sistema religioso da Barquinha. O diferencial dessa pesquisa é que ela compreende as mirações a partir do diálogo entre múltiplos saberes, como antropologia, psicologia, filosofia da mente, estudos da consciência, química, neurofisiologia e espiritualidade.

“Sim, os elementos espirituais devem ser levados em conta ao se trabalhar com e sobre a consciência. Não clamo aqui pelo retorno de uma metafísica, mas sim que se leve em conta um fenômeno que tem forte influência na vida de milhares de indivíduos”, defende Mercante na apresentação do livro. “A consciência é um palco onde interagem neurônios, elementos químicos, fatores psicológicos, culturais, sociais e espirituais”, define.

De acordo com o autor, por um lado, a cultura influencia o modo como a pessoa experiencia o mundo espiritual. Por outro, durante um ritual religioso, o indivíduo “tem a chance de se tornar consciente de outros níveis de existência, além das tarefas convencionais diárias”. Ou seja: o mundo espiritual também pode influenciar a cultura, modificando-a.

“Na medida em que se aprofunda o processo de cura, considera-se que qualquer problema tem uma fonte espiritual, e a distinção entre doença física e espiritual é diluída”, conta Mercante. Entendidas como um desequilíbrio de forças, as doenças são curadas quando se restabelece a sintonia. “A principal expressão ativa da cura seria o ato de ajudar outras pessoas a atingirem a mesma experiência – a caridade”, comenta. Embora, em alguns casos, as doenças sejam completamente tratadas através das cerimônias de cura, em outros, apenas a parte espiritual é reequilibrada. “E recomenda-se procurar um biomédico ocidental para cuidar do corpo físico”, observa o pesquisador.

O ritual religioso estudado por Mercante inclui música, canto, dança e orações, além da ingestão da Ayahuasca. O ritual e a bebida se combinam, na consciência dos indivíduos participantes, com processos de autoconhecimento e elementos do espaço espiritual. Essa combinação resulta nas mirações, “as imagens mentais espontâneas experienciadas durante o transe induzido pela ingestão ritual de Ayahuasca”. Para receber uma miração, não basta vontade: é preciso merecê-la. E, após o recebimento da miração, ocorre um momento de interpretação e entendimento, estabelecendo-se “os elos entre as imagens mentais e o mundo do dia a dia”, explica Mercante.

Dessa forma, a miração é também uma mediação, pois ela envolve corpo, sentimentos, emoções, o espaço espiritual e a mente. “Os processos de cura estariam também conectados com a mudança de percepção de si mesmo”, diz o autor. Assim, no processo de cura, a percepção do indivíduo como sendo formado por várias partes isoladas – corpo físico, mente, emoções, espírito – dá lugar à consciência que integra todas essas partes em um indivíduo total. Lembrando que a fé é muito importante em qualquer processo de cura, o autor destaca que as mirações podem ser “não somente a fonte de imagens de cura, mas também a fonte da cura, uma cura que, de forma ampla, envolve o sujeito como um todo”.

O livro é fruto da tese de doutorado de Mercante realizada na Saybrook University, um instituto interdisciplinar de pós-graduação, nos Estados Unidos.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

"Tal situação indica que a antropologia da "crença" é essencialmente um exercício de ficção científica, fundamentada na (aparentemente indelével) convicção de que o substantivo "crença", o verbo "acreditar", ou sua versão substantivada "crer" (le croire) podem ser utilizados como conceitos analíticos. Isto, entretanto, não é possível, e por uma simples razão: "acreditar" é um verbo de atitude, que pode expressar certeza assim como pode expressar suposição, ou seja, graus abismais - entre a quase-certeza e o quase-ceticismo. (...) Precisamos admitir: enquanto os antropólogos insistirem em falar de "crença", eles não serão mais do que narradores ordinários trocando palavras por prazer, ao invés de serem cientistas sociais em busca de exatidão. A situação poderá se tornar menos problemática se os antropólogos pararem de usar a idéia de "crença" como um conceito analítico e começarem a listar e descrever as milhares de atitudes nativas flutuantes em relação a feitiçaria, e depois esboçarem suas conclusões a partir daí." (Jeanne Favret-Saada, "Death at your heels: when ethnographic writing propagates the force of witchcraft" (tradução minha), In HAU: Journal of Ethnographic Theory 2 (1), 2012, pp. 45-53.)



A feitiçaria no Bocage provoca uma suspeita fundamental da fragilidade do contrato social; e simultaneamente promove meios de consolidar este contrato social através de perpétuas atividades de grupo e de reconstrução de si (ou do eu), atividades que são também frágeis e precárias. "Em suma, talvez o Bocage nos forneça um salto para um complexo cultural que cultiva uma modesta esperança de uma solidez do social, o qual se esboça através de uma ontologia mínima; ao invés destes mundos nativos encantados, com seus pensamentos ultra-sofisticados e suas luxuosas "florestas de símbolos" que os antropólogos tão infalivelmente descobrem e exaltam." (Jeanne Favret-Saada, "Death at your heels: when ethnographic writing propagates the force of witchcraft" (tradução minha), In HAU: Journal of Ethnographic Theory 2 (1), 2012, pp. 45-53.)

domingo, 12 de agosto de 2012

Sobre a Dor

Em São Paulo, fui ao médico-parteiro, o homem que fará o meu parto, o máximo de adesão ao parto normal que encontrei no meio médico por estas terras. Pois bem, ele sempre me pergunta se tenho dor de cabeça e se precisei tomar remédio. Finalmente as dores de cabeça chegaram, e ele perguntou se tomei remédio, disse que não.

Ao passo que minha mãe, que estava ao meu lado, lhe pergunta: o que faz com a dor de cabeça?; querendo perguntar, na verdade, se é um mal sinal ou mal sintoma. O médico-parteiro responde, simplesmente: Toma um Tilenol. Minha mãe reitera, dizendo que eu só me submeto a remédios quando estou realmente morrendo. E então diz o médico-parteiro, do alto de sua sapiência medicinal: Deixa de ser masoquista. Toma um Tilenol e pronto.


Passam-se uns dias, e estava eu lendo sobre os antigos índios do Grão-Pará. Havia um desejo pela dor ali, uma valoração pelo castigo. E então me lembrei de Foucault, e Deleuze, e Bataille, grandes caras que nos mostram toda a saga ocidental-civilizacional que, juntamente com a invenção da Medicina e dos Cuidados de Si, vem banalizando a anestesia, dando adeus ao corpo, vem construindo um corpo sem dor, remediado. Foi se negando a experiência da dor, por séculos e séculos.

E então encontrei-me com a Antropologia da Dor. Artigo interessante de Antonio Guerci e Stefania Consigliere que saiu na |Revista Ilha de 1999: "Por uma antropologia da dor. Nota preliminar."

Dizem eles, dentre outras coisas:

"Mas desde que a medicina se esforce em separar a dor da trama cultural, encontrar-se-á com a dificuldade (ou a incapacidade) de tratar grande número de dores invalidantes. E mais, o limiar da dor baixa na medida em que os analgésicos se banalizam. A procura por anestesia aumenta também em função da desaparição de valores outrora associados à resistência pessoal à dor."


Por outro lado, o martírio tem andando na moda, tal como podemos ver nas tatuagens, nos regimes malucos, nos carismáticos católicos. É um martirizar-se para atingir uma felicidade. De repente, a cosmologia indígena da dor se parece com a cosmologia dos monges do kung fu: apanhar para saber apanhar, levar na cara para ser um forte e ganhar cada vez mais resistência frente às porradas da vida; frente à peia terrestre.


Voltando à medicina ocidental, creio que pelos séculos anda viajando: a cura não tem nada a ver com a anestesia. São muitas e muitas medicinas tradicionais a nos mostrar o exato contrário: o alcance da cura exige a passagem pela dor - e dor extrema. Curar é ganhar da dor. Cura como guerra, como batalha. Todos-querem eliminar a dor, mas os caminhos tomados são distintos. Afastar a dor se anestesiando (a medicina ocidental anestesia os partos, as depressões, os lutos, com seus remédios tarja preta), ou expurgar a dor pelo martírio mesmo (a medicina tradicional vai lá na raíz do sofrimento, destrincha o sofrimento e o cospe feito sangue escarrado).



quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Devaneios ou A Pisa Paraense

- Dou-lhe uma pisa!

E tudo era tão bruto, tal como a pedra bruta, a pedra não-lapidada. Simples assim, como uma bofetada na cara; ou melhor dizendo, como umas quatro bofetadas bem dadas na minha cara. A pisa paraense, muito usada como remédio pra colocar cabeça alheia no lugar. E carregar o bucho por nove meses vendo o rio passar, e as crianças crescendo e sendo levadas por sua bruta e alegre correnteza, e guerrear, que é a tradução para viver, e significa simplesmente desarmar sua rede e fabricar o peixe com açaí para o almoço ao som de um carimbó caribenho.


Já em São Paulo, tudo ganha os ares da produção. Produzir, produzir; e a coisa foi andando nesse bonde através do século que chegou a tal ponto que uma simples reuniãozinha na casa de amigos significa um "momento de produção"; ou um simples mutirão para construir um barracão atrás de casa é traduzido, pelos paulistas, por "Mini-Curso de Bioconstrução" - e não se engane: você vai ter que pagar uma contribuição para poder "aprender" a "fazer um mutirão" ecológico-socialista.

E assim, até o ecologismo por aqui vira produção, e plantar uma árvore significa se promover, e se promover é uma produção de si mesmo, que vai lhe trazer consequencias financeiras.

Escrever um esboço qualquer, de musica ou poema ou uma besteirola de um recadinho de geladeira, o paulista vai chamar de "minha produção intelectual", ou "minha produção artística". Senta na frente de uma tela de computador e se vê como o grande produtor, o grande trabalhador, aquele que constrói o Brasil varonil e faz o país andar. Se a pessoa tem um dom de cura, ou de massagem, ou de fazer um parto; bem, isso em São Paulo se torna uma carreira, um ganha-pão, e aquele quartinho de costura lá no fundo da casa em São Paulo é "ateliê", onde rolam "mini-cursos" de "aromaterapia", "musicoterapia", com os preços módicos que os paulistas adoram pagar e estão acostumados.

(É a distinção, já observada por Joana Overing, entre uma "sociedade regida pelo status" (=São Paulo, centros urbanos de razão ocidental) e uma "sociedade regida pela razão prática do cotidiano" (=Amazônia). Nas primeiras, importa a legitimidade adquirida por um "poder" externalizado e institucional (= um diploma, um curso, um certificado). Isso é o que "faz a pessoa", a torna humana. O que a "faz pessoa" é algo externo a ela. Nas últimas, importa a eficácia das atividades pessoais cotidianas (como a arte de produzir alimento, por exemplo), adquirida por uma ascese estritamente pessoal. O que "faz a pessoa" é a pessoa mesma, ou suas atividades; e a experiência pessoal nestas agências. Algo como a distinção entre dom e profissionalização.) Povos prescritivos versus povos performativos, tal qual conceitualizou Marshall Sahlins.

Daí é que me vem a saudade da pisa paraense, do sobe aí no jambeiro e pega uma fruta, do senta aí e pesca logo um mupará, do boraembora. Rude e simplesmente. Sem fuleragem.


ai, que meu amor é guerra sem fim, é desapegar-se de mim, me entregar a alucinação de suas águas e perder-me.


minha paixão pelo Norte é mística de São João da Cruz e Santa Teresa D'Ávila.








sábado, 4 de agosto de 2012

"O brasileiro é um feriado." - Nelson Rodrigues, Sem amar, nem odiar (Crônica)

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

"... qualquer um tem seus íntimos pântanos, sim, pântanos adormecidos. É preciso não despertá-los. Mas certos acontecimentos acordam a lama do seu negro sono. Quando isso acontece, a alma começa a exalar o tifo, a malária, e a paisagem apodrece." (Nelson Rodrigues, Reze menos por mim (crônica))

terça-feira, 31 de julho de 2012

Patrimônio da Penha - Caparaó

O Patrimônio da Penha é uma vila que pertence ao município de São Lourenço (ES) e está localizada no entorno do Parque Nacional do Caparaó (MG-ES).

É lá que se localiza a Igreja Céu do Espírito Santo.

A doce cosmologia Mbyá-Guarani

Disponível em: http://www.editoraappris.com.br/produto/3958456/A-Doce-cosmologia-Mbya-Guarani-Uma-Etnografia-de-Saberes-e-Sabores

A Doce cosmologia Mbyá-Guarani: Uma Etnografia de Saberes e Sabores
Mártin César Tempass


Este livro é o resultado de oito anos de pesquisas etnográficas entre o grupo indígena Mbyá-Guarani.


R$ 70,00

Dados técnicos

ISBN: 978-85-8192-012-2
Número de Páginas: 430
Edição: 1a
Ano da edição: 2012

sábado, 28 de julho de 2012

"Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária (...)".

Todos tem dom de se curar.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

"Some realities need to be fictionalized before they can be apprehended." - Veena Das.

domingo, 1 de julho de 2012

Artigo bacana para Aula de Parentesco

PINA CABRAL, João de. "O limiar dos afetos: algumas considerações sobre nomeação e a constituição social de pessoas".

Este texto, escrito a pedido de Chiara Pussetti, foi apresentado pela primeira vez como Aula Inaugural do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UNICAMP (Universidade de Campinas), São Paulo Brasil em Abril 2005.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Lançamentos Antropologia

Lançamentos – Livros 2012


BAINES, Stephen; SILVA, Cristhian Teófilo da; FLEISCHER, David Ivan R. e FALEIRO, Rodrigo Paranhos (2012), Variações Interétnicas: Etnicidade, conflito e transformações. Brasília: IEB, CEPPAC/UnB, IBAMA.

CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro, (2012), Reconhecimentos. Antropologia, Folclore e Cultura Popular. Coleção Circuitos da Cultura Popular. Volume 4. Rio de Janeiro: Ed. Aeroplano.

COSTA, Patrícia Trindade Maranhão (2012), As raízes da congada: A renovação do presente pelos filhos do Rosário. Curitiba: Editora Appris.

GAMA, Rita, (2012), A cultura popular no Museu de Folclore Edison Carneiro. Coleção Circuitos da Cultura Popular. Volume 3. Rio de Janeiro: Ed. Aeroplano.

LIFSCHITZ, Javier (2012), Comunidades Tradicionais e Neocomunidades. Contracapa: FAPERJ, Rio de Janeiro.

SOARES, Facó (org.) (2012), Guia de fontes e bibliografia sobre línguas indígenas e produção associada. Rio de Janeiro/ Editora Museu Nacional/UFRJ.

domingo, 24 de junho de 2012

Em Buenos AIres, o Museo Xul Solar

Museu Xul Solar Endereço: Laprida 1212 - (1425) Cidade de Buenos Aires Telefone: (011) 4824-3302 Fax: (011) 4821-5378 E-mail: xulsolar@ciudad.com.ar

sexta-feira, 22 de junho de 2012

"Porque meu espírito estudou muito a sabedoria e a ciência, e apliquei o meu espírito ao discernimento da sabedoria, da loucura e da tolice. Mas cheguei à conclusão de que isso é também vento que passa. Porque no acúmulo de sabedoria, acumula-se tristeza, e que aumenta a ciência, aumenta a dor. (...) Àquele que lhe é agradável Deus dá sabedoria, ciência e alegria, mas ao pecador ele dá a tarefa de recolher e acumular bens, que depois passará a quem lhe agradar. (...) Assim eu concluí que nada é melhor para o homem que alegrar-se e procurar o bem-estar durante sua vida, e que comer, beber e gozar do fruto de seu trabalho é um dom de Deus." - Eclesiastes.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

"Escutei um perfume de sol nas águas." - Manoel de Barros, Livro sobre Nada

quarta-feira, 20 de junho de 2012

"Conhecia demais os homens para amá-los." - José Saramago, Clarabóia - - . Enquanto eu a atravessar o mar.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Pathos, Passion: Afecção.

from: http://www.filoinfo.bem-vindo.net/filosofia/modules/lexico/entry.php?entryID=2566 afecção Definition: V. afeição pathos teoria platônica, pathos 6-7, psyche 15-17; em Aristóteles, 9-10; no estoicismo, 12; irracional, violenta, não natural no estoicismo, apatheia 3; as quatro maiores afecções, epithymia; em contraste com ação, ergon 3; prazer e dor em, hedone 8; reduzida a juízos por Crisipo, noesis 17; propriedade do organismo no epicurismo, holon 9; critério epicurista da verdade, prolepsis; virtude como meio de, meson [FEPeters] (gr. pathos; lat. Passion; in. Affection; fr. Affection; al. Affektion; it. Affezione). Esse termo, que às vezes é usado indiscriminadamente por afeto e paixão, pode ser distinguido destes, com base no uso predominante na tradição filosófica, pela sua maior extensão e generalidade, porquanto designa todo estado, condição ou qualidade que consiste em sofrer uma ação ou em ser influenciado ou modificado por ela. Nesse sentido, um afeto (que é uma espécie de emoção), ou uma paixão, é também uma afecção, na medida em que implica uma ação sofrida, mas também tem outras características que fazem dele uma espécie particular de afeição. Dizemos comumente que um metal é afetado pelo ácido, ou que fulano tem uma afecção pulmonar, ao passo que reservamos as palavras "afeto" e "paixão" para situações humanas, que apresentam todavia certo grau de passividade por serem estimuladas ou ocasionadas por agentes externos. Nesse sentido generalíssimo, Aristóteles entendeu a palavra pathos, que considerou como uma das dez categorias e exemplificou com "ser cortado, ser queimado" (Cal, 2 a 3); chamou de afetivas (pathetikai) as qualidades sensíveis porque cada uma delas produz uma afecção dos sentidos (ibid., 9 b 6). Além disso, ao declarar, no princípio de De anima, o objetivo de sua investigação, Aristóteles entendeu que visava conhecer (além da natureza e da substância da alma) tudo o que acontece à alma, isto é, tanto as afecção que pareçam suas, quanto as que ela tem em comum com a alma dos animais (De an., I, 1, 402 a 9). No referido texto a palavra afecção (pathe) designa o que acontece à alma, isto é, qualquer modificação que ela sofra. O caráter passivo das afecção da alma, caráter que parecia ameaçar-lhe a autonomia racional, levou os estoicos a declarar irracionais, logo más, todas as emoções (Dióg. L., VII, 110): donde a conotação moralmente negativa que assumiu a expressão "afecção da alma", revelada claramente em expressões como perturbatio animi, ou concitatio animi, usadas por Cícero (Tusc, IV, 6, 11-14) e por Sêneca (Ep., 116), e expressamente consideradas por S. Agostinho (De civ. Dei, IX, 4) como sinônimos de affectio e affectus (emoção). Mas S. Agostinho e, depois dele, os escolásticos mantiveram o ponto de vista aristotélico da neutralidade das afecção da alma sob o ponto de vista moral, no sentido de que elas podem ser boas ou más, segundo sejam moderadas ou não pela razão; ponto de vista que Tomás de Aquino defendeu referindo-se precisamente a Aristóteles e a S. Agostinho (S. Th., II, I, q. 24, a. 2). A noção de modificação sofrida, isto é, de qualidade ou condição produzida por uma ação externa, mantém-se constante na tradição filosófica e exprime-se o mais das vezes com a palavra passio, que só na segunda metade do século XVIII assume o seu significado moderno (v. paixão). Assim, Alberto Magno entende por afecção "o efeito e a consequência da ação" (S. Th., I, q. 7, a 1). Tomás de Aquino, que dá idêntica definição (ibid., I, q. 97, a. 2), distingue três significados do termo: "O primeiro, que é o mais próprio, tem-se quando alguma coisa é afastada daquilo que lhe convém segundo a sua natureza ou a sua inclinação própria, como quando a água perde a sua frieza por ação do calor, ou como quando o homem adoece ou se entristece. O segundo significado, que é menos próprio. tem-se quando se perde uma coisa qualquer, seja ela ou não conveniente; e nesse sentido se pode dizer que sofre uma ação (pati) não só quem adoece mas também quem se cura e, em geral, quem quer que seja alterado ou mudado. Num terceiro sentido, diz-se quando o que estava em potência recebe aquilo que ele era em potência sem perder nada; em tal sentido, pode-se dizer que tudo o que passa da potência ao ato sofre uma ação mesmo quando se aperfeiçoa" (ibid., I, q. 79, a. 2). Cada um desses significados, distinguidos por Tomás de Aquino e compreendidos na noção geral de afecção, pode ser encontrado no uso ulterior do termo. Passio animi era a denominação que alguns escolásticos (cf. Ockham, In Sent., I, d. II, q. 8 C) davam à species intelectiva, isto é, ao universal ou conceito. A passio em geral é definida por Campanella (Phil. ration. dialectica, I, 6) como "um ato de impotência que consiste em perder a própria entidade — essencial ou acidental, no todo ou em parte — e em receber uma entidade estranha". Descartes deu expressão clássica a essa noção em Paixões da alma (I, 1, 1650): "Tudo o que se faz ou que acontece de novo geralmente é chamado pelos filósofos de afecção, no que se refere ao sujeito a quem acontece, e de ação, no que se refere àquilo que faz acontecer; de tal modo que, embora o agente e o paciente sejam muitas vezes bem diferentes, a ação e a afecção não deixam de ser a mesma coisa com esses dois nomes, devido ao dois sujeitos diferentes aos quais se pode referir". Em sentido análogo, essa palavra é empregada por Spinoza para definir o que ele chama de affectus e que nós chamaríamos de emoções ou sentimentos. As emoções, enquanto passiones, isto é, afecção, constituem a impotência da alma, que as vence transformando-as em ideias claras e distintas. "A emoção, diz Spinoza (Et., V, 3), "que é uma afecção, cessa de ser uma afecção assim que dela formamos ideia clara e distinta". Nesse caso, realmente, essa ideia se distingue só racionalmente da emoção e se refere só à mente; assim, deixa de ser uma afecção (ibid., V, 3). Por isso Deus, que é desprovido de ideias confusas, está isento de afecção (ibid., V, 17). No mesmo sentido, exprime-se Leibniz (Monad., § 49): "Atribui-se a ação à mônada na medida em que ela tem percepções distintas, e a afecção na medida em que tem percepções confusas". No mesmo sentido exprimem-se Wolff (Ont., § 714) e Crusius (Vemunftwahrheiten, §66). Kant exprimiu do modo mais claro possível a noção de afecção como recepção passiva, em um texto de Antropologia (§ 7): "As representações em relação às quais o espírito se comporta passivamente, por meio das quais, portanto, o sujeito sofre uma afecção [Affection] (de si mesmo ou de um objeto), pertencem à sensibilidade; aquelas, porém, que incluem o verdadeiro agir (o pensamento) pertencem ao poder cognoscitivo intelectual. Aquele é também chamado poder cognoscitivo inferior e este, poder cognoscitivo superior. Aquele tem o caráter da passividade do sentido interno das sensações, este tem o caráter da espontaneidade da apercepção, isto é, da consciência pura do agir que constitui o pensamento; e pertence à lógica (isto é, a um sistema de regras do intelecto) assim como aquele pertence à psicologia (isto é, ao complexo de todos os atos internos submetidos a leis naturais) e fundamenta a experiência interna". Esses conceitos são fundamentais para toda a Crítica da Razão Pura, especialmente para a distinção entre estética e lógica, que repousa no seguinte princípio: "Todas as intuições, por serem sensíveis, repousam em afecção; os conceitos, ao contrário, repousam em funções" (Crít. R. Pura, Analítica dos conceitos, I, seção I). Essas observações de Kant estão em polêmica com a tese da escola leibniziano-wolffiana, segundo a qual a sensibilidade consiste nas representações indistintas e a intelectualidade, nas distintas; o que, segundo notava Kant (Antr, § 7, nota), significa que a sensibilidade consiste numa falta (falta de distinção), enquanto esta é algo de positivo e de indispensável ao conhecimento intelectual. Em conclusão, o termo afecção, entendido como recepção passiva ou modificação sofrida, não tem necessariamente conotação emotiva, e, embora tenha sido empregado frequentemente a propósito de emoções e afetos (pelo caráter claramente passivo destes), deve considerar-se extensivo a toda determinação, inclusive cognoscitiva, que apresente caráter de passividade ou que possa de qualquer modo ser considerada uma qualidade ou alteração sofrida. [Abbagnano] Em Spinoza, afecção não é algo simplesmente passivo; é o modo da substância, de sorte que este modo equivale a suas afecções. Esclarece ele: "Entendo por afecções, as afecções do corpo por meio das quais aumenta ou diminui, acrescenta-se ou reduz-se a potência de obrar do dito corpo, e ao mesmo tempo as ideias de suas afecções." Veja-se José Ferrater Mora. Dicionário de Filosofia, palavra afectar.