quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Side effects of stopping the Pill

Segunda semana - Fadiga monumental, durmo dias e noites inteiras como se eu nunca tivesse dormido antes. Depressão. Choro sem motivo, esqueço das coisas, pensamento lerdo, leio um parágrafo três vezes não entendo nada e não sei do que se tratava a primeira frase quando chego no final. Tristeza. Falta de fome. Não almoço, nem janto. Dor!! Muita dor no baixo-abdomen. Não sinto vontade de fazer nada. Nada me agrada,começo a ler um livro, e desisto, vou ouvir um som e desisto. Os passeios me deixam ainda mais triste. Nada me empolga. Me sinto uma mulherzinha, e me pergunto se o que sinto será ausência total de hormônios no corpo ou enxurrada de hormônios, como se o corpo tivesse passado a produzir muito de um dia para o outro. Amo demais, e no minuto seguinte, odeio demais. Quero casar e no minuto seguinte quero terminar. Hoje acordei chorando porque achava que o namoro era extremamente feliz no inicio de primavera do ano passado e nesse ano está extremamente pesaroso e triste. Sinto muita falta de minhas amigas, vontade de conversar sobre esses meus sentimentos de mulherzinha que o stopping-Pill tem me trazido. Mas não saio de casa, não tenho vontade de sair de casa. Hoje faltei da aula. Não consigo me focar em nada. Sinto-me numa nebulosa. Dor sentada, deitada e ao andar. Sensação de estar esquecendo alguma coisa muito importante que não sei o que é. Esquecimento, letargia. Há quatro dias não vou ao kung fu. Cérebro lerdo. Sensação de estar ficando louca - uma loucura de sensações, de sentir demais, de sentir tudo, a razão se perde, tudo se tornou sentires. Melancolia profunda. Identificações com místicos e médiuns. Desejo por vícios e drogas pesadas. Estou esquecendo palavras simples, demorei meia hora para me lembrar da palavra "homeopatia" hoje.

Talvez seja importante anotar que a primeira semana foi ótima, logo que parei com as pílulas eu fiquei menstruada, fluxo em quantidade (a pílula estava me deixando quase sem fluxo), me senti muito bem, a libido aumentou, e talvez uma dorzinha na virilha, mas que eu atribui a um alongamento ruim.

Virginia Woolf - roupas

"Futilidades vãs, como parecem, as roupas têm - dizem eles - funções mais importantes do que simplesmente nos aquecer. Elas mudam nossa visão do mundo e a visão do mundo sobre nós. (...) Assim, pode-se sustentar o ponto de vista de que são as roupas que nos usam, e não nós que as usamos; podemos fazê-las tomar a forma do braço ou do peito, mas elas moldam nosso coração, nosso cérebro, nossa língua, à sua vontade." (Virginia Woolf - Orlando)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Exorcismo e Igreja Católica

Como são considerados os exorcistas dentro da Igreja?

AMORTH: Somos muito mal tratados. Os irmãos sacerdotes que são encarregados dessa delicadíssima tarefa são vistos como doidos, fanáticos. Em geral quase não são tolerados nem pelos bispos que os nomeiam.

(...) que seja proibido a 150 sacerdotes participar duma audiência pública do Papa na Praça de São Pedro explica o quanto são dificultados os exorcistas pela sua Igreja, quanto são mal vistos por tantas autoridades eclesiásticas.

O Sr. combate o demônio quotidianamente. Qual é o maior sucesso de Satanás?

AMORTH: Conseguir que não creiam na sua existência.

Quase conseguiu.

Também dentro da Igreja. Temos um clero e um episcopado que já não crêem no demônio, nos exorcismos, nos males extraordinários que o diabo pode fazer, e tampouco no poder que Jesus concedeu de expulsar os demônios.

Há três séculos que a Igreja latina - ao contrario dos orientais e de várias confissões protestantes - abandonou quase completamente o ministério dos exorcismos. Sem praticá-los, estudá-los nem vê-los, o clero já não crê.

Já não crê tampouco no diabo. Temos inteiros episcopados contrários aos exorcismos. Há nações completamente carentes de exorcistas, como a Alemanha, a Áustria, a Suíça, a Espanha e Portugal. Uma carência assustadora.

(...) Nós que tocamos todos os dias o mundo sobrenatural sabemos que meteu a colher em tantas reformas litúrgicas.

Por exemplo?

AMORTH: O Concílio Vaticano II tinha comandado a revisão de alguns textos.

Desobedecendo a essa ordem, o que se quis foi refazê-los completamente.

Sem pensar que se podiam piorar as coisas em vez de melhorá-las. E tantos ritos foram piorados por essa mania de querer jogar fora tudo o que havia no passado e refazer tudo desde o começo, como se a Igreja tivesse até hoje sempre tapeado e enganado, e só agora tivesse chegado o tempo dos grandes gênios, dos superteólogos, dos superbiblistas, dos superliturgistas, que sabem dar à Igreja as coisas certas. Uma mentira. O último Concílio tinha simplesmente pedido a revisão desses textos, não a sua destruição.

O Ritual dos exorcismos, por exemplo: era para ser corrigido, não refeito.

Havia orações que têm doze séculos de experiência.

Antes de eliminar orações tão antigas e que por séculos demonstraram a sua eficácia, seria preciso pensar longamente. Mas não. Nós, os exorcistas, experimentando o Ritual "ad interim", vimos que são absolutamente ineficazes.

Também o Ritual do Batismo das crianças foi piorado.

Foi desvirtuado até quase eliminar o exorcismo contra Satanás, que sempre teve enorme importância para a Igreja, tanto que era chamado "exorcismo menor".

Contra esse novo rito protestou publicamente também Paulo VI.

Foi piorado o novo Ritual de Bênçãos. Li minuciosamente todas as suas 1200 páginas. Pois bem, foi cuidadosamente tirada toda referência ao fato de que o Senhor nos protege de Satanás, que os anjos nos protegem do assalto do demônio.

Tiraram todas as orações que havia na bênção das casas e das escolas. Tudo tinha de ser benzido e protegido, mas hoje a proteção contra o demônio já não existe, já não existem defesas e tampouco orações contra ele.

O próprio Jesus tinha-nos ensinado uma oração de libertação no pai-nosso: "Livrai-nos do Maligno. Livrai-nos da pessoa de Satanás". Em vernáculo foi traduzida de forma errônea, e agora se reza dizendo: "Livrai-nos do mal". Fala-se dum mal genérico, do qual no fundo não se sabe a origem. Ao contrário, o mal contra o qual Nosso Senhor Jesus Cristo tinha-nos ensinado a combater é uma pessoa concreta: é Satanás.

Padre Amorth, o satanismo difunde-se cada vez mais. O novo Ritual torna difícil fazer exorcismos. Impede-se aos exorcistas a participação numa audiência papal na Praça de S. Pedro. Diga-me sinceramente: o que está acontecendo?

AMORTH: A fumaça de Satanás entra em todas as partes.

Em todas as partes!

Talvez tenhamos sido excluídos da audiência do Papa porque tinham medo de que tantos exorcistas conseguissem expulsar as legiões de demônios que se estabeleceram no Vaticano.

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É muito interessante vê-lo criticando fortemente o Concílio Vaticano II por suavizar muito a ritualística pesada da Igreja Católica. Na intenção de universalizar mais o catolicismo, o Concílio acabou por inventar uma "missa light". Penso no padre Roberto Lettieri, cuja maior de suas lutas é a do resgate da tradicional Santa Missa. Padre que particularmente celebra a santa missa no rito antigo, e acredita que a eficácia de uma missa voltada para o povo (como quis o Concílio) depende da santidade do sacerdote. Rito novo ou rito antigo, é necessária uma forte espiritualidade da parte do sacerdote. Mas Lettieri não critica o Concílio, o considera como uma obra do Espírito dentro da Igreja, e que são sacerdotes quem deturpam o Concílio. Considera o Concílio obra do Espírito, apesar de defender a missa tradicional.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Tudo o que eu quero fazer, mas não posso

... porque escrevo minha dissertação. Então deixo anotado para quando tiver de férias e sem emprego:

1) Tirar na flauta a música Serenade to a Cuckoo do disco This Was, do Jethro.
2) Terminar meu cachecol de tear.
3) Fazer um brinco de macramê com cinco cores.
4) Pesquisar/ir conhecer a comunidade Combatentes da Fé em Goiás.
5) Tomar um banho de cachoeira.
6) Tocar, tocaar!! Ir na casa dos amigos e ensaiar por 5 horas seguidas.
7) Comprar uma lata de spray e fazer uma homenagem ao maluco lim.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Coyote Anthropology




Novo livro de Roy Wagner, publicado em julho de 2010. Segundo a Iracema, ele mergulha de cabeça na influência da antropologia de Carlos Castaneda, construindo um diálogo com Coiote.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Micro-etnografia de uma paróquia

Antes de dar as bênçãos finais, o padre apresentou o candidato da paróquia (estávamos em 2010, ano de eleições presidenciais) e ofereceu-lhe bênçãos especiais para a sua vocação política. A última frase proferida pelo padre antes de descer do altar me soou realmente estranha: "Caipirinha no mesmo lugar...". Chegando até a porta de saída, fiéis se serviam de caipirinha e uma moça entregava santinhos com a foto e o número do candidato da paróquia.

Quanto mais verdadeiros os fatos, melhor a ficção

"Como já disse que era um dia de outubro, não me atrevo a perder o seu respeito e pôr em risco o bom nome da ficção mudando a estação e descre vendo lilases pendendo de muros de jardins, aça- frões, tulipas e outras flores da primavera. A ficção deve ater-se aos fatos, e, quanto mais verdadeiros os fatos, melhor a ficção — é o que nos dizem. Por tanto, ainda era outono e as folhas ainda estavam amarelecidas e caíam, quando muito, um pouco mais depressa que antes, pois então era noite (sete e vinte e três, para ser precisa) e uma brisa (do sudoeste, para ser exata) começava a soprar." - Virginia Woolf, Um teto todo seu

domingo, 12 de setembro de 2010

Victor Turner e a Modernidade?

"It would seem that with industrialization, urbanization, spreading
literacy, labor migration, specialization, professionalization, bureau-
cracy, the division of the leisure sphere from the work sphere, the
former integrity of the orchestrated religious gestalt that once con-
stituted ritual has burst open and many specialized performative genres
have been born from the death of that mighty opus deorum hominumque.
These genres of industrial leisure would include theater, ballet, opera,
film, the novel, printed poetry, the art exhibition, classical music, rock
music, carnivals, processions, folk drama, major sports events, and doz-
ens more. Disintegration has been accompanied by secularization. Tra-
ditional religions, their rituals denuded of much of their former sym-
bolic wealth and meaning, hence their transformative capacity, persist in
the leisure sphere but have not adapted well to modernity. Modernity
means the exaltation of the indicative mood; but in what Ihab Hassan
has called the "postmodern turn" we may be seeing a re-turn to sub-
junctivity and a rediscovery of cultural transformative modes, particu-
larly in some forms of theater." (TURNER, "Social Dramas and Stories about them" In Critical Inquiry, 1980, p. 166)



"Religion, like art, lives insofar as it is performed, that is, insofar as its
rituals are "going concerns." If you wish to spay or geld religion, first
remove its rituals, its generative and regenerative processes. For religion
is not a cognitive system, a set of dogmas, alone; it is meaningful experi-
ence and experienced meaning. In ritual one lives through events or
through the alchemy of its framings and symbolings; one relives
semiogenetic events, the deeds and words of prophets and saints or, if
these are absent, myths and sacred epics."(TURNER, "Social Dramas and Stories about them" In Critical Inquiry, 1980, p. 167)