sábado, 29 de maio de 2010

Missionários Católicos

"Estes visitadores por demais zelosos..." - Thich Nhat Hanh, monge zen vietnamita, sobre os missionários católicos (in Vietnã: flor de lótus em mar de fogo, de autoria de Thich)

Uma boa biblioteca

http://temqueler.wordpress.com/

terça-feira, 18 de maio de 2010

Sinestesia

Iron Butterfly, no lado A do In-A-Gadda-Da-Vida, são os desenhos de homenzinhos rechonchudos do Luiz, com seus bigodes simpaticos e calças coloridas. Eles flutuam num céu de bolinhos muffin, e se movem como sopros no anel de bolha de sabão.


do disco primeiro de pink floyd:
astronomy domine - barulhinhos do espaço.
lucifer sam - caçada de super-heróis em prédios altos.
flaming - tentativa de pintar a floresta de rosa.
pow r. toc h. - bum-txtx-huuuuhuuulll!!-tointoin + jazz comportado

Em Defesa da Fraternidade

De acordo com Nietzsche, em sua obra Genealogia da Moral, a exaltação moral da qualidade da fraternidade é a expressão de uma "rebelião moral escravista", realizada por aqueles que estão em situação de desvantagem social; seja em razão de suas capacidades materiais, seja em razão da índole de suas oportunidades fixadas pelo destino. Aqueles que saem em defesa da moral fraterna tem ressentimentos contra o estilo de vida do estrato senhorial que vive livre de obrigações.

Em relação a uma certa comunidade, esta assertiva explicaria o por quê da juventude de seus membros: a situação de certa classe de idade que se encontra temporariamente fora de qualquer oportunidade para exercer suas capacidades materiais e do destino, posto que se encontram abaixo de hierarquias e, em seu processo de reflexão de si e do mundo, muitas vezes se dão conta de que nunca poderão alcançar o estilo de vida senhorial, mesmo porque para tanto, seria necessário escravizar outro montante.

A exaltação moral da fraternidade pode ser encontrada em diversas manifestações da communitas, como os hippies artesãos a percorrerem as estradas, os punks de uma outra época nas esquinas sobrevivendo do lixo.

No que diz respeito a referida comunidade, tal assertiva nietzschiana também explicaria a própria construção e existência de seu líder, um jovem seminarista que passa a se auto-construir em prol de uma moral fraterna que em tudo é contrária ao estilo senhorial do qual o mesmo deveria ser parte: um senhorio que se nega a tanto, vestindo seu corpo com trapos e se negando a chinelos, instaura uma contradição na medida em que o faz sem abandonar uma posição social de senhorio, a saber, a do padre. Assim, constitui-se um homem, um religioso, rebelde à Igreja porém ao mesmo tempo fiel à Igreja.

De acordo com Weber, o profeta encontra seu lugar habitual nas classes menos privilegiadas da sociedade, a partir de uma lógica religiosa onde o indivíduo por si passa a buscar, desejar, sua salvação - que quer dizer livrar-se de seus sofrimentos. Este tipo de religiosidade tornou-se um substituto, ou um complemento racional, para a magia. A isto, Max Weber chamará de racionalização. Para Weber, em sua maior parte este processo de racionalização está desligado da teoria nietzschiana do ressentimento, apesar de se tratar de uma transformação da noção de sofrimento. Neste sentido, o surgimento das religiões de salvação está atrelado com as transformações da noção de sofrimento e também à ascensão de um indivíduo, em contrapartida de uma noção comunitária que lhe antecedia. É como se o ressentimento de Nietzsche fosse uma estrutura quase imutável, que funciona feito um cubo mágico que vai brincando em mudar a ordem das cores, mas a forma se mantém; e o que muda são outras coisas que o rodeiam.

Para Weber, o fato de o profeta encontrar seu lugar habitual nas classes menos provilegiadas da sociedade se dá porque em geral, os oprimidos, ou pelo menos aqueles que se vêem acossados pela miséria, têm necessidade de um redentor, um salvador, que muitas vezes aparecerá na figura de um messias (que nunca chega) ou de um profeta (diversos na história). De repente, penso que pode ser um problema classificar a juventude como uma "classe oprimida", ou "sem poderes". Dizer que a juventude não tem poder é complicado. Ainda mais se tratando de uma juventude classe média. Assim, penso ser melhor dizer que estes jovens se direcionam a um empoderamento que se dá via pertença religiosa. Acredito que esta maneira de se ver a situação também é válida para aqueles que Weber classifica de "oprimidos": seja qual for a forma de opressão, hoje em dia o que se vê são indivíduos se empoderando pela via religiosa, e isso incluirá todo o discurso do sofrimento e salvação, e então se empoderam mediados por um redentor que os salva, conferindo-lhes todo tipo de poder - que pode se manifestar em dons,no caso dos carismáticos, ou em bens materiais, no caso dos protestantes, por exemplo. Um bom exemplo para pensar é uma mulher classe média, mas que não manda em nada na casa ou no dinheiro, devido a uma posição feminina, e vai encontrar uma forma de se empoderar através de uma liderança carismática. Desse ponto de vista, a coisa fica mais prá Joel Robbins.


No caso da comunidade analisada, a grande questão será a das vias de seu empoderamento. Isto porque jogam com um modo de adquirir poder que está para além de uma espera do messias para sanar seus sofrimentos. Buscam se aproximar do sagrado a partir de toda uma gama de renúncias, como a castidade, a renúncia a todos os bens materiais e à família, o jejum, a restrição ao sono e até mesmo o sofrimento, infligido deliberadamente mediante a mortificação, como ficar de joelhos por três horas diárias, dormir no chão. Conforme nos ensinou Max Weber, este conjunto de práticas constituem uma ascese para a aquisição dos valores sagrados mais estimados,chamados, pelo autor, de "carismas".

Max Weber já alertara que a aquisição dos valores sagrados supremos, como os êxtases, os transes, as visões, as experiências místicas contemplativas, as inspirações, etc., nunca foi universal, para as massas. Historicamente, estes estados psíquicos não tem sido as constantes da vida cotidiana. Para Weber, o processo de racionalização configurou como dogma de que os homens estão diversamente qualificados no sentido religioso, o que quer dizer que nem todos podiam ascender ao nirvana,ou a união contemplativa com a divindade, ou a possessão orgiástica ou ascética de Deus.

_ninna.

Por que os pombos andam ritmando passos com a cabeça: pé direito, cabeça pra frente; pé esquerdo, cabeça pra frente? Eu não quis sentar do lado do maluco que eu vejo no metrô gritando para o vazio: "não me siga, Elisabeth, não me siga!" Pés de meias diferentes em pés de carne iguais. Dedos inchados e álcool gel depois do transporte público. Tem um cara num realejo na esquina. Cidade é granada. Informações em fragmentos destrutivos. - Carol Bazzo, ou Ninna. Conto: "Película", in cosmonirico.blogspot.

Haxixe: o sagrado marginal


(Naga Sadhu, belíssima fotografia de Joshi Daniel.)


" O haxixe era conhecido em todas as terras árabes, mas para uma seita religiosa, o sufismo, ele se tornou parte da própria religião, mais ou menos como o bangue e a ganja entre os hindus. Os sufis - assim chamados porque vestiam lã (suf) como penitência - divergiam dos demais mulçumanos em sua crença de que a iluminação espiritual não podia se ensinada ou recolhida através de percepção racional, mas somente em estados alterados de consciência. O uso do haxixe era um dos métodos para se atingir esse estado de transe. Por causa do haxixe, de sua conduta ascética, e porque provinham sobretudo das classe inferiores, os sufis eram repudiados pelos outros árabes. Ainda assim, eles fortaleciam o vículo entre o haxixe e a espiritualidades árabe, um vínculo que perdura até nossos dias (...) em 1253 as ruas do Cairo estavam cheias de sufis e, conseqüentemente, de haxixe. O cânhamo crescia por todo o Cafour, um jardim no centro da cidade. As autoridades concluíram que a situação estava fora de controle, e todas as plantas de cânhamo foram destruída numa imensa fogueira visível a milhas de distância (...) Muitos povos do norte da África fumam Kif, que transportam num mottoni (bolsa) com duas ou quatro divisões. Cada compartimento contém kif de uma potência diferente, que é oferecido aos convidados segundo o grau de respeito ou de amizade (...) (Págs. 70/71 do "Grande Livro da Cannabis, de Rowan Robinson)

terça-feira, 11 de maio de 2010

Abstinência e Santidade

"Múltiples formas de penitencia, y de abstinencia de un régimen alimenticio y un
sueño normales, así como de relaciones sexuales, excitan, o por lo
menos propician, el carisma de estados de éxtasis, visionarios, histéricos y, en suma, de todos los estados extraordinarios valorados como "santos". Su producción constituye, pues, la finalidad del ascetismo mágico. El prestigio de estas penitencias se origina en la idea de que determinadas clases de sufrimiento y estados anormales promovidos por la penitencia preparan la consecución de poderes sobrehumanos,es decir, mágicos. En igual sentido han obrado las antiguas prescripciones de tabúes y abstinencias en beneficio de una pureza del culto,
originadas en la creencia en demonios." - MAX WEBER, Sociología de la Religión

domingo, 2 de maio de 2010

Comer ou Vomitar o Inimigo - Lévi-Strauss

"Mas, sobretudo, devemos nos convencer de que certos costumes que nos são específicos, se considerados por um observador oriundo de uma sociedade diferente, parecer-lhe-iam de natureza idêntica à dessa antropofagia que se nos afigura alheia à noção de civilização. Penso em nossos costumes judiciários e penitenciários. Ao estudá-los de fora, ficaríamos tentados a contrapor dois tipos de sociedades: as que praticam a antropofagia, isto é, que enxergam na absorção de certos indivíduos detentores de forças tremendas o único meio de neutralizá-las, e até de se beneficiarem delas; e as que, como a nossa, adotam o que se poderia chamar de ‘antropemia’ (do grego ‘emein’, “vomitar”). Colocadas diante do mesmo problema, elas escolheram a solução inversa, que consiste em expulsar esses seres tremendos para fora do corpo social, mantendo-os temporária ou definitivamente isolados, sem contato com a humanidade, em estabelecimentos destinados a este fim. Na maioria das sociedades que chamamos de primitivas, tal costume inspiraria um profundo horror; em seu entender, isso nos marcaria com a mesma barbárie que seríamos tentados a imputar-lhes por causa de seus costumes simétricos." - LÉVI-STRAUSS, Tristes Trópicos. Capítulo 38 - "Um Copinho de Rum".

Anarquia Ontológica e Revolução do Caos Místico

"True mysticism creates (...) a self with power."
- Hakim Bey, The temporary autonomous zone, Onthological Anarchy, Poetic Terrorism, 1985.