segunda-feira, 30 de maio de 2011

A Vale mata

No dia 24/05 foram assassinados o casal de ambientalistas José Claudio e Maria do Espírito Santo em Nova Ipixuna, Pará. O assassinato foi realizado por pistoleiros contratados por mandantes: a prova sinistra que deixaram foi terem cortado a orelha de José Cláudio e a levado, claramente para mostrar ao mandante do crime de que o trabalho havia sido realizado com sucesso.

José Cláudio e Maria do Espírito Santo eram ambientalistas assentados no Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira. Integrantes do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), ONG fundada por Chico Mendes, os dois viviam e produziam de forma sustentável no lote de aproximadamente 20 hectares, onde 80% era de floresta preservada. Com a floresta se relacionavam e sobreviviam do extrativismo de óleos, castanhas e frutos de plantas nativas, como cupuaçu e açaí. No projeto de assentamento vivem aproximadamente 500 famílias. Eram líderes que travavam uma luta pela preservação da floresta e da vida na floresta.

Desde o ano 2000, o casal era vítima de ameaças de morte: quem os ameaçava, diziam eles, eram madeireiros e carvoeiros. Dentro de sua área de assentamento, havia algumas castanheiras, as poucas que restaram dessa região devido ao saque dos madeireiros. Não bastasse tanta castanheira que os madeireiros já saquearam da região, sua fome nunca termina, e eles estavam saqueando e matando as castanheiras do assentamento onde o casal morava, assim como as castanheiras da região. Pois bem: José Cláudio e Maria do Espírito Santo, ao denunciar e brigar com estes sujeitos para proteger as árvores, acabaram mortos por estes próprios sujeitos de motosserra na mão.

Quem é o verdadeiro responsável por este assassinato? Eu lhes digo: a Companhia Vale e o projeto de desenvolvimento do Governo Lula/Dilma. A Companhia Vale é uma grande corporação privada que recebe muito respaldo do Estado do nosso país para continuar com suas ações, que se resumem a extrair todo o ferro que conseguirem das serras repletas de minério que o nosso território possui. Eles explicam direitinho na página virtual deles.

Prá quê tanto ferro? É a própria Vale que nos explica, em sua página virtual, onde diz qual é a sua missão:

"Nossa missão:
Transformar recursos minerais em riqueza e desenvolvimento sustentável"


Assim, saqueando os recursos naturais de nosso e de outros territórios, a Vale se enriquece, e desenvolve nosso país. Qual é o tipo de desenvolvimento que uma produção acirrada de ferro proporciona para um país, e mais ainda, para toda a humanidade? Não sei qual é a concepção de desenvolvimento que esse pessoal tem na cabeça, mas de acordo com os sintomas deste desenvolvimento, já percebi que não é um desenvolvi-gente. Com o ferro produzem pátios com milhares de carros, e aviões, e navios, e sabe-se lá mais o quê (talvez usinas atômicas como aquela que explodiu no Japão).

Mas esse texto quer tratar de uma outra consequência, muito assustadora, dessa extração de ferro e seu manuseio: o ferro desmata a floresta, e mata gente. O carvão é usado preponderantemente na produção de ferro gusa e aço. Na produção de ferro gusa, o carvão cumpre duas funções: como combustível para gerar o calor necessário à operação do alto-forno da siderúrgica e como agente químico para retirar o oxigênio durante o processo. O ferro gusa da Amazônia é considerado o melhor do mundo porque usa o carvão vegetal e não o mineral.

E é assim que toda a cadeia funciona: o Estado quer um desenvolvimento, e os ricos querem mais riqueza (o que quer dizer, muitos dólares em seus bolsos). Em conluio, montam uma grande corporação chamada Companhia Vale, a qual, pelo menos nesta região de onde lhes escrevo do Pará, coloca cercas em torno de uma serra, a Serra dos Carajás, diz que aquilo tudo é dela, e começa a cavar um grande buraco, extrair o ferro e transportá-lo de navio e de trem para muitos lugares. Todo esse ferro vai para as siderúrgicas nacionais e multinacionais, que são incentivadas pela Companhia Vale através de joint ventures, e pelo Estado Brasileiro através daquela nossa conhecida abertura de pernas.

Chegando nas siderúrgicas, o forno para trabalhar esse ferro tem que ser alimentado com carvão, o qual é obtido através dos madeireiros, que com o apoio da falta de segurança do Estado (e da humanidade, visto que a Amazônia é um pulmão do mundo) frente a sua floresta, e ainda mais, com a concessão que este mesmo Estado oferece (principalmente com o Novo Código Florestal, que legitima o desmatamento de Áreas de Proteção onde o desmatamento já se iniciou), vem desmatando toda a floresta amazônica a olhos vistos. O mundo pensa que a coisa não é bem assim, mas é só dar um pulinho aqui no Pará e ver o que está acontecendo. Aqui em Marabá, por exemplo, tem um empreendimento que se chama Shopping da Madeira. Agora imaginem vocês aí o que é esse shopping da madeira. Isso é só um exemplo. A maior parte da madeira vai direto para os fornos das siderúrgicas.

E é assim que quando algum ser humano se levanta e diz: "Meu caro amigo, não mate essa árvore!", ou inicie uma vida na floresta, uma economia florestal (como iniciou e liderou o grande mestre Chico Mendes), esse ser humano leva tiro na cabeça.

Meus amigos: a Vale mata.

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