De acordo com María de la Concepción Piñero Valverde (FFLCH/USP), para a então carmelita Teresa de Jesus, escrever era um ato de obediência, mas também ocasião de enxergar a si mesma com mais clareza e de comunicar aos outros os dons que recebera. O início da atividade de escrita de Teresa de Jesus ocorre quando seus superiores eclesiásticos a mandam que escrevesse. Teresa queria reformar o Carmelo, e então seus superiores pediram que ela escrevesse seus projetos - o que, de acordo com Valverde, era uma forma de seus superiores a conhecerem, e também a censurarem, visto que a censura na época era tamanha, que diversos escritores espirituais eram taxados de bruxos e postos na fogueira, ainda mais Teresa de Jesus, que afirmava falar com Deus e ver Jesus. Assim, obrigada a escrever seus projetos, Teresa vai além, faz da obrigação uma obediência e um dom, e escreve o livro de sua vida e tantas outras obras sobre edificação espiritual.
Havia, ainda, mais um empecilho social para a formação de Teresa de Jesus como escritora de tratados espirituais: de acordo com Leila Algranti, a sociedade da época considerava as mulheres instruídas pecadoras, além de considerar que uma mulher não poderia ter o mesmo grau de instrução que um homem. Desta forma, as mulheres eram impedidas de ler diversos livros, como romances e também como tratados espirituais (os quais eram muito censurados na época). As letras estavam muito próximas do pecado. De acordo com Algranti, o conhecimento adquirido por uma mulher deveria ser guardado para si e não poderia ser exibido ou utilizado em conversações com homens. E o que dizer de Teresa de Jesus, que havia sido educada por seus pais a ler, e ler muito? Seu pai tinha uma biblioteca vastíssima. Já no convento, Teresa foi uma das primeiras em seu tempo a ler as Confissões de Santo Agostinho. E o que dizer de Teresa escritora? Ao escrever para seus superiores eclesiásticos - e portanto, para homens -, Teresa tornava-se cada vez mais lida, chegando ao ponto de ser lida por São João da Cruz.
Leila Algranti especifica que, naquele tempo, as mulheres não podiam ser mestras: podiam receber instrução, mas não podiam ensinar. No caso das doutoras da Igreja, somente em 1970 o Papa Paulo VI concedeu este título, e foi para Santa Teresa de Jesus e Catarina de Sena. Até hoje, na história da Igreja Católica, têm o título de doutoras apenas 4 mulheres, e 32 homens!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
-
-
-
-
Nem quente nem fria.Há 9 anos
-
-
-
- Library Nu
- Revista Alteridades
- Revista Enfoques
- Biblioteca Curt Nimuendaju
- Revista Os Urbanitas
- Open Thesis
- Tem que Ler - Biblioteca Virtual Muito Boa
- Anthropology Reviews
- Etnográfica - Revista de Lisboa
- Revista Brasileira de História das Religiões
- Revista de Antropologia Social - Madrid
- Curso sobre São Francisco de Assis - Prof.a Andréia Frazão
- Revista Cadernos de Campo - USP
- ABA - Associação Brasileira de Antropologia
- Núcleo de Antropologia Urbana - USP
Nenhum comentário:
Postar um comentário