terça-feira, 9 de agosto de 2016

Santa Teresa de Jesus: escritora.

De acordo com María de la Concepción Piñero Valverde (FFLCH/USP), para a então carmelita Teresa de Jesus, escrever era um ato de obediência, mas também ocasião de enxergar a si mesma com mais clareza e de comunicar aos outros os dons que recebera. O início da atividade de escrita de Teresa de Jesus ocorre quando seus superiores eclesiásticos a mandam que escrevesse. Teresa queria reformar o Carmelo, e então seus superiores pediram que ela escrevesse seus projetos - o que, de acordo com Valverde, era uma forma de seus superiores a conhecerem, e também a censurarem, visto que a censura na época era tamanha, que diversos escritores espirituais eram taxados de bruxos e postos na fogueira, ainda mais Teresa de Jesus, que afirmava falar com Deus e ver Jesus. Assim, obrigada a escrever seus projetos, Teresa vai além, faz da obrigação uma obediência e um dom, e escreve o livro de sua vida e tantas outras obras sobre edificação espiritual.

Havia, ainda, mais um empecilho social para a formação de Teresa de Jesus como escritora de tratados espirituais: de acordo com Leila Algranti, a sociedade da época considerava as mulheres instruídas pecadoras, além de considerar que uma mulher não poderia ter o mesmo grau de instrução que um homem. Desta forma, as mulheres eram impedidas de ler diversos livros, como romances e também como tratados espirituais (os quais eram muito censurados na época). As letras estavam muito próximas do pecado. De acordo com Algranti, o conhecimento adquirido por uma mulher deveria ser guardado para si e não poderia ser exibido ou utilizado em conversações com homens. E o que dizer de Teresa de Jesus, que havia sido educada por seus pais a ler, e ler muito? Seu pai tinha uma biblioteca vastíssima. Já no convento, Teresa foi uma das primeiras em seu tempo a ler as Confissões de Santo Agostinho. E o que dizer de Teresa escritora? Ao escrever para seus superiores eclesiásticos - e portanto, para homens -, Teresa tornava-se cada vez mais lida, chegando ao ponto de ser lida por São João da Cruz.

Leila Algranti especifica que, naquele tempo, as mulheres não podiam ser mestras: podiam receber instrução, mas não podiam ensinar. No caso das doutoras da Igreja, somente em 1970 o Papa Paulo VI concedeu este título, e foi para Santa Teresa de Jesus e Catarina de Sena. Até hoje, na história da Igreja Católica, têm o título de doutoras apenas 4 mulheres, e 32 homens!

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Pegando firme no projeto de doutorado

Pegando firme: 3h ininterruptas de leitura; 30min de intervalo; retorna ao começo


Primeira leitura - STUTZMAN, Renato - O profeta e o principal (2005).

Descentralização de poder – novos caciques em retomadas de antigas ocupações: olhar para uma nova terra, aspecto de chefia xamânica. Chefias indígenas e sua concepção de natureza.

Para Latour, Viveiros de Castro e Descola, a noção de política indígena nunca pode ser dissociada da de natureza, e nesse sentido, qualquer política dos homens é antes de tudo uma política cósmica, ou cosmopolítica: são regimes ontológicos indígenas. Na política cósmica, se integram agentes humanos e não-humanos.

Chefias indígenas – antropologia política.
relação xamã-chefe – p. 356 da tese do Schutzman

Schutzman escreveu um projeto de doutorado que queria investigar a relação entre xamanismo e a ação política na Amazônia.
Ação política:
- política faccional;
- constituição de um domínio político;
- produção de espaços comuns, locais ou supralocais;
- posições do tipo chefia

Antigos tupi do litoral: relação entre profetismo e domínio político.

Segundo Clastres, o exercício do poder político se realiza forçosamente pela coerção. As chefias tupi podem ser uma posição política, e não um poder político, quando não se valem da coerção. As chefias tupi seriam um exemplo de recusa do poder político como coerção. Conduzindo, assim, a uma determinada ação política ameríndia.