terça-feira, 23 de abril de 2013

O Profeta e o Principal

Autor: Renato Sztutman

Editora: Edusp

Ano: 2012

Nº de Páginas: 576 pp


Sinopse: Assim os antigos Tupi da costa brasílica chamavam seus grandes pajés e chefes de guerra. Nas fontes dos séculos XVI e XVII estes eram muitas vezes reconhecidos como profetas e principais. Como um problema relacionado a povos do passado – a imbricação entre o que convencionamos chamar de “religioso” e “político” – pode ser repensado agora, em vista das etnografias sobre povos atuais, com suas novas interrogações? Em que medida é possível falar em uma “ação política ameríndia”, uma vez revelada a constante metamorfose de intrigantes personagens, como chefes, guerreiros, xamãs, profetas, sacerdotes, feiticeiros, entre tantos outros? Eis as questões e os desafios lançados por este livro, que toma como ponto de partida as ideias de Pierre e Hélène Clastres sobre os mecanismos indígenas de recusa e conjuração do poder coercitivo e de toda unificação ontológica.

sábado, 20 de abril de 2013

O Santo da Casa na Árvore




Santo Antonio foi um franciscano da primeira década de 1200, e ao se encontrar com o franciscanismo, após muito pregar pelas cidades, ele constrói uma casa na árvore de um convento da Ordem de Santa Clara e nesta casa ele mora, ele prega para as pessoas e ele publica suas pregações. Um pregador, curador, milagreiro do contato franciscano com a natureza.


Sermões de S. Antônio: O Bom Cristão segue o exemplo das abelhas.

Os Sermões, de onde se extraiu este trecho aqui apresentado, encontram-se na íntegra em: Sermões Dominicais e Festivos de Santo Antônio. Doutor Evangélico, por Henrique Pinto Ramos (Org.), Editorial Restauração, Lisboa 1970.

O Bom Cristão segue o exemplo das abelhas

Lê-se na história natural que as abelhas pequeninas trabalham sem descanso. Têm asas fininhas e são de cores mais escuras, como se fossem queimadas.

Abelhas pequenas são os bons cristãos sem pretensões que só se ocupam de boas e úteis obras, de forma que o diabo não os encontra nunca de mãos vazias ou desocupadas.

Têm asas finas, isto é, desprezam as vaidades e os prazeres do mundo e se inflamam de amor pelo Reino Celestial. Com essas asas sobem alto, voando livres no ar puro, com o coração fixo na Glória de Deus.

As abelhas trabalhadeiras são de cor escura, como se fossem queimadas. A respeito disto, a alma cristã exclama no Cântico dos Cânticos (1.5-6): "Sou morena, mas formosa, ó filhas de Jerusalém, sou como as tendas de Cedar, como os pavilhões de Salomão. Não repareis na minha tez morena, pois foi o sol que me queimou!" Oh! anjos do céu, oh! almas santas, sou morena porque as abstinências, os jejuns, as vigílias e outras penitências me tomaram assim. Porém, sou bela na alma pela pureza da mente e pela integridade da fé. Sou morena como as tendas de Cedar, que quer dizer nômade; habito de fato em tendas móveis que se transportam de um lugar para o outro, das quais os soldados atacam ou nas quais são atacados, "porque não temos aqui embaixo nenhuma cidade permanente, andamos em busca da que há de vir" (Hb 13,14).

Não deis importância ao fato de eu ser morena, pois sou morena porque o sol me queimou. O sol em eclipse descora todas as coisas. Assim Jesus Cristo, o verdadeiro sol, "que conheceu seu ocaso" (SI 103,19) quando na cruz padeceu o eclipse da morte, deixou a atração das vaidades, as falsas glórias, todas as honras mundanas.

Por isso, a alma cristã pode afirmar com razão: "Sim, sou morena, minha pele é escura, o sol me queimou". Enquanto, com efeito, com os olhos da fé eu contemplo a meu Deus, meu esposo, meu Jesus, pregado na cruz, atravessado por cravos, alimentado com fel e vinagre, e coroado de espinhos, toda a beleza, toda a glória, toda a honra, toda a pompa mundana empalidece a meus olhos e perde todo o valor... Eis aqui, estas são as abelhas pequenas e escuras, como se fossem queimadas. Assim pensam e atuam os verdadeiros cristãos.

Abelhas de bela aparência são ao contrário todos os cristãos inautênticos e todos os que não sabem fazer outra coisa senão agitar aos quatro ventos as falsas credenciais de sua falsa honestidade e bondade, enquanto na realidade são somente sepulcros, de aparência bela e solene, porém cheios por dentro de podridão e ossos ressequidos...

As tentações do maligno atacam especialmente aquelas pessoas honestas e virtuosas que, quando percebem que não agiram corretamente, logo reconhecem suas culpas e se apressam a confessá-las e a fazer uma justa reparação. E aí, então, que na consciência dessas pessoas retas o maligno procura penetrar e instalar-se com o fim de transtornar sua sensibilidade moral. O bom cristão, porém, sabe opor-se com todas as forças a esses intentos e nunca permitir que tal projeto se realize.

Os bons cristãos deveriam seguir o exemplo das abelhas. Diz-se que as abelhas se colocam com todo o cuidado nos buracos da entrada da colméia e, na eventualidade de que algum bichinho consiga entrar, elas não o deixam em paz e o perseguem por todos os lados até expulsá-lo para fora da colméia.

O nome em latim das abelhas parece derivar do fato de que elas se entrelaçam entre si por melo das patinhas as quais, no entanto, elas não possuem no momento do nascimento. Por isso é que se chamam "apes", isto é, "sem pés". Os cristãos também se encontram unidos entre si por sentimentos de caridade, de recíproco amor. Esta, porém, não é uma prerrogativa natural; até São Paulo (cf. Ef 2,3) afirma que "somos destinados por natureza à cólera". É, antes, um dom gratuito depositado em seus corações por Deus.

Como as colméias, assim são os nossos corpos: possuem cinco entradas que são os cinco sentidos. Entre estes, de especial importância são os olhos com os quais temos que vigiar atentamente para que não penetre em nós algo estranho e turvo. Se alguma sugestão diabólica ou algum instinto perverso perturbar nosso espírito, não devemos de jeito nenhum e por nenhum motivo permitir que permaneça por muito tempo em nós. Com efeito, sua demora transforma-se em perigo e, assim o afirmam os moralistas, um pensamento mau, conservado com complacência, já constitui uma falta mortal. Portanto, logo que a consciência adverte que o pensamento está indo para o ilícito e não o afasta, está permitindo que se forme o assim chamado pensamento mau cultivado.

Como as abelhas, assim o bom cristão deve movimentar-se prontamente e, com o ferrão de sua boa consciência e da oração, tem que perseguir sem se cansar os intrusos até expulsá-los para fora da colméia do seu coração. (Dom. III in Quadr. 153, 27155, 10).

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A Virgem Maria Oriental

Nota Sobre a Misericórdia de Bodhisattva Guan-Yin:
reflexão a partir do artigo “Mother Mary Comes To Me
– A Radical Insegurança da Condição Humana”


Ho Yeh Chia
(FFLCH-USP)





Empreendi a tarefa da tradução do artigo “Mother Mary comes to me – a radical insegurança da condição humana” para o chinês, porque fiquei impressionada, não só pela beleza mas principalmente, pela relevância do tema: a insegurança humana e a misericórdia divina, configurada em Maria de Nazaré. Esta misericórdia nos é concedida uma vez que tenhamos a humildade de pedi-la...

Sendo eu budista, a figura da Virgem Maria me lembra muito a de Bodhisattva Guan-Yin, não somente porque ambas simbolizam – cada qual na sua tradição – a pureza, a coragem, e a fé, mas principalmente porque representam o amor feminino (essencialmente materno), a compaixão e a misericórdia, ou seja, aquela que tudo perdoa.

No atual budismo chinês, os Bodhisattvas mais populares são a Guan-Yin e o Di Zhang Wang [1] .

Para leitores ocidentais, vale lembrar aqui que Bodhisattvas (em chinês, pu-ti-sa-to, 菩提薩多, ou pu-sa菩薩) são espíritos perfeitos, como explica Karl Ludvig Reichelt, em Truth and Tradition in Chinese Buddhism:

“Eles podem, se quiserem, entrar na plena dignidade búdica na eterna paz e felicidade, mas eles não o fazem no tempo presente, porque como bodhisattvas eles podem mais facilmente buscar aquela parte da criação ainda submetidas a peculiares condições incertas e dolorosas para almas a caminho.

“Kuan-Yin, um dos cinco bodhisattvas mais conhecidos, é o Avalokitesvara Indo-Tibetano, a divindade que atende ao grito da angústia, e se volta para o sofredor. Esta figura, pouco a pouco, vem se destacando mais que outros bodhisattvas para significar o espírito, o misericordioso e bondoso espírito que acende em todas as criaturas o desejo de uma renovação do coração, e que os protege contra toda dor e tristeza. Nos tempos primitivos, Kuan-Yin era geralmente considerado como masculino, e ainda se vê em certos mosteiros na China uma enorme figura com barba e expressão viril, que mostra Kuan-Yin como um homem. Nessa forma, Kuan-Yin é chamado filho de Amitabha. Pouco a pouco, características femininas vão se tornando mais proeminentes. Isto ocorre na medida em que a concepção de espírito torna-se dominante, e tudo que os chineses podem imaginar de ternura materna e graça feminina foi atribuído a ela. Ela se tornou a Senhora compassiva do oriente.

“Kuan-Yin, como os outros bodhisattvas, fez grandes votos. Ela irá se encarnar nas mais variadas formas, para salvar a humanidade. Por isso ela se deixa nascer ora nesse grupo, ora naquele: entre ladrões, entre criminosos na prisão, entre angustiados marinheiros e viajantes. Conhecemos cerca de trinta e duas diferentes formas, “ying”. Seu aniversário é celebrada no décimo nono dia do segundo mês; seu ingresso na Sabedoria Plena é comemorado no décimo nono dia do sexto mês; sua morte, ou melhor, seu ingresso no Nirvana, é dado por ocorrido no décimo nono dia do nono mês. Entre o povo, essas três datas são muitas vezes conhecidas como “aniversário de Kuan-Yin”. A confusão é fácil de entender: Essas festas são ocasiões muito alegres. Todos saem à rua, os templos e as cidades são decorados para a festa, para kuan-Yin, a Divindade da Misericórdia, é extremamente popular”. (p. 179 e pps)



Bodisatwa Guan-Yin foi consagrada, universalmente nas diversas correntes budistas, como principal figura da devoção. Não é necessariamente uma deusa, porque guarda traços humanos. Por exemplo, conta-se, na tradição popular, que ela foi uma princesa na antiga Índia, era a mais bela e piedosa entre todas; não gostava de vestidos luxuosos, nem de pratos finos feitos com carnes de animais, embora tudo isso lhe fosse oferecido como direito. Alimentava-se de verduras, porque não suportava ver animais sendo mortos; vestia-se de panos grossos porque gostava de ser simples; e era a mais piedosa entre as filhas. Mas quando chegou o momento de casar, fugiu do palácio porque queria buscar o seu caminho e se dedicar ao ascetismo, seguir o exemplo de Buda. Ao ser obrigada pelos seus pais a contrair casamento, ajoelhou-se diante do palácio do rei, durante dias e noites, sem nada comer, passando frio e tomando vento e chuva, apenas recitando o “Sutra da Grande Compaixão”. E assim, sua fé venceu todas as barreiras. Quando alcançou o Nirvana, não teve desprendimento suficiente para deixar o mundo, porque a sua compaixão era tão forte e infinita que lhe deu forças para fazer o maior voto que alguém podia desejar realizar: “enquanto houver almas sofredoras sobre a face da Terra, não abandonarei esse mundo, e ajudarei todos a alcançar a libertação”. E assim, ela é oficialmente chamada a “Grande Misericordiosa e Grande Compassiva Bodhisattva Guan-Shi-Yin” (a propósito, Guan-Shi-Yin, em chinês, significa literalmente: “Aquela que vê e que ouve o Mundo”).

Ela atende todos os apelos. Por mais desesperadas e “perdidas” que as pessoas possam estar, ela é incapaz de abandonar quem quer que seja, budista ou não, pois, na compreensão budista, todos os homens são de natureza búdica (luz que reflete a si mesmo), pouco importa a que religião pertençam; ou seja, seres humanos são budas em potencial.

Feitas as considerações acima, vale dizer que o referido artigo é importante e recomendável também para leitores budistas que vivem na atual sociedade consumista e materialista. Torna-se ainda mais relevante uma vez que o quadro internacional que se encontra nesse momento extremamente delicado e crítico; quanto ao mundo chinês (o continental) que há pouco se abriu para o mundo capitalista, e agora ingressa na Organização Mundial de Comércio, uma reflexão profunda é prudente. Cabe a cada um discernir e não deixar que desvie a sua infinitude para desejos superficiais! De qualquer forma, as graças que propiciam a salvação, quer pela Maria Mãe, quer pelo Bodhisattva, nos são oferecidas, de forma aberta e maternal, pacientemente, incondicionalmente e eternamente.
Eu estava quase caindo quando uma voz me cantou:

PEDI A MEU MESTRE
Padrinho Alfredo

Eu pedi a meu Mestre
Não me deixe cair
Ele me respondeu
Teus esforços são meus
e temos que seguir